A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, traduzido para português) propõe que os países membros descrevam ações climáticas pós 2020, conhecidas como sua pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada (intended Nationally Determined Contribution – iNDC), que oficializam o compromisso das nações em limitar o aumento da temperatura média de 2°C até a segunda metade do século e, após, alcançar emissões zero líquidas.
Os países desenvolvidos devem tomar a dianteira na implementação de metas ambiciosas de redução de gases de efeito estufa e os países em desenvolvimento devem contribuir de forma compatível com o crescimento econômico e social. Conforme relatório iNDC Brasil divulgado no site do Itamaraty, o país mantém o seu compromisso adotando uma meta de redução de emissões de carbono de 37% até 2025, em relação aos níveis de 2005, e 43% até 2030.
Atualmente, em alguns cenários globais, a eficiência energética é descrita como a principal estratégia para o abatimento de carbono através da redução na emissão dos gases de efeito estufa. A International Energy Agency (IEA) dividiu os diferentes tipos de ação, em um cenário até 2030 e, comparada a todas as outras alternativas – tais como investimento em energias renováveis, corte de subsídios para combustíveis fósseis e redução da produção de metano na cadeia de óleo e gás – a eficiência energética é a responsável por quase 50%, conforme demonstrado na figura abaixo. Sgarbi (2017) ressalta, inclusive, que cerca de 2/3 do potencial de eficiência energética no mundo está represado, sendo a maior parcela em edificações.
Estratégias globais para redução na emissão de GEE
Fonte: IEA. Energy and Climate Change. World energy outlook special report. 2015.
Geração renovável, somos privilegiados e referência.
Conforme dados do BEN 2016 (EPE/MME, 2017), a participação de renováveis na matriz elétrica brasileira, em 2015, foi de 75,5%. Comparado com 2014, houve avanço de 1,2%, segundo a EPE, devido à queda de geração térmica a derivados de petróleo e ao incremento das gerações à biomassa e eólica, apesar da redução de oferta hidráulica.
O Brasil é privilegiado por sua vasta capacidade de geração de energia hidráulica e por isso a participação de energia renovável é muito maior que na geração mundial, que, com base em dados de 2013, está em 21,2%. Mesmo com a redução da oferta interna de energia elétrica disponibilizada em 1,3%, de 2014 a 2015, devido ao desaquecimento do setor industrial e redução do PIB, a capacidade instalada do setor elétrico brasileiro aumentou 5,2% neste período, sendo que o setor industrial consumiu 37,6% de todo o consumo de eletricidade no Brasil, em 2016.
Aqui, os principais usos finais são força motriz, calor de processo e aquecimento direto, sendo que a força motriz é a que possui menor rendimento: 47,1% no levantamento do Balanço de Energia Útil (BEU) de 2004 (BEN, 2016).
A eficiência energética, o caminho necessário a ser trilhado.
A Associação Brasileira de Empresas de Serviços de Conservação de Energia (ABESCO) considerou em estudo de abril de 2017 (ABESCO, 2017) que o Brasil possui um percentual de economia de energia de 6,2% no setor industrial. Outro estudo (Elektro, s.d.) considera que 55% do consumo de energia elétrica na indústria é destinado à alimentação de motores elétricos, e que, portanto, os motores são responsáveis por mais de 20% do consumo de energia elétrica distribuída no Brasil.
Neste cenário, conforme descrito em Leonardo Energy (2017), a melhoria da eficiência dos equipamentos elétricos, sejam eles, geradores, transformadores de distribuição, motores e até eletrodomésticos, poderia contribuir para a redução do consumo de energia elétrica, com um custo 70% menor do que investindo na ampliação do sistema de geração. Não ter a necessidade de investir em ampliação do sistema, não impacta só no custo, mas também em eliminar todas as preocupações e riscos que um projeto desta envergadura necessita desde a concepção, licenciamento, autorizações, aprovações, até a operação e manutenção.
Investir em estratégias e ações de eficiência energética é mais vantajoso por critérios econômicos e ambientais, pois reduz o consumo no lado da demanda de energia sem necessidade de aumentar a geração no lado da oferta de energia e impacta positivamente na redução das emissões de gases causadores do efeito estufa.
Aliado a este aspecto e numa visão mais pontual de consumo dos processos e edificações, um sistema de gestão de energia em uma planta industrial, por exemplo, não somente traz benefícios pelo acréscimo financeiro na redução das perdas de energia dos processos de conversão, mas também:
a) agrega valor ao negócio, pois altera a cultura comportamental em todas as nuances relativas ao consumo de energia,
b) influencia indiretamente na redução do impacto ambiental causado pelas emissões atmosféricas,
c) aumenta a disponibilidade de energia elétrica para implantação de novos empreendimentos, e
d) incrementa a vida útil dos equipamentos elétricos, levando-os para trabalharem na região de maior eficiência, ao qual foram projetados para operar.
A eficiência energética, portanto, apresenta muitos benefícios e é essencial a sua implementação, através de políticas públicas e ações consolidadas nas edificações e processos públicos ou privados, de forma que as metas do clima reafirmadas no iNDC Brasil sejam realmente alcançadas e possamos ser referência no mundo não só por nossa matriz renovável de energia, mas por trabalhar eficientemente para reduzir o desperdício e consumo de energia e seus impactos inerentes no clima.
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Autor: Roberto Volkmann – Engenheiro Eletricista e Sócio da Eecoah
Referências:
ABESCO. Potencial de Eficiência Energética no Brasil 2008 – 2016. Mai 2017. Disponível em < http://www.abesco.com.br/pt/novidade/potencial-de-eficiencia-energetica-no-brasil-2008-2016/ >. Acesso em 10 jun 2017.
Brasil. Itamaraty. Mudança do clima. Disponível em < http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/desenvolvimento-sustentavel-e-meio-ambiente/712-mudanca-no-clima >. Acesso em 2 jun 2017.
Brasil. Ministério de Minas e Energia. Plano Nacional de Energia 2030 / Ministério de Minas e Energia; colaboração Empresa de Pesquisa Energética. Brasília : MME : EPE, 2007. v. 11. Eficiência energética.
ELEKTRO. Manuais Elektro de Eficiência Energética. Segmento Industrial – Sistemas Motrizes. s.d.
EPE/MME. BEN 2016. Relatório Síntese – ano base 2015. Rio de Janeiro, RJ. Jun 2016. Disponível em < https://ben.epe.gov.br/BENRelatorioSintese.aspx?anoColeta=2016&anoFimColeta=2015 >. Acesso em 1 jun 2017.
Leonardo Energy. Troca de Motores Elétricos Oferece Ganho de Eficiência Energética. Disponível em < http://leonardo-energy.org.br/noticias/troca-de-motores-eletricos-oferece-ganho-de-eficiencia-energetica/ >. Acesso em 15 jun 2016.
SGARBI, F. Webinar: “Guia para Aplicação da Norma ABNT NBR ISO 50001 – Gestão de energia.” Leonardo Energy. Apresentado em 08 Mai 2017. Disponível em < http://leonardo-energy.org.br/wpdm-package/guia-para-aplicacao-da-norma-abnt-nbr-iso-50001-gestao-de-energia/ >. Acesso em 11 jun 2017.