Como a natureza inspira o pensamento e técnicas de design para uma arquitetura mais saudável e harmônica.
Estamos em novembro de 2020, após um processo intenso de quarentenas, de pausa coletiva. Contudo, continuamos no meio de uma pandemia global, o covid-19. Por que a pandemia impactou tanto na nossa rotina, qual o cenário que temos, o que refletimos, o que mudamos?
Vamos recapitular o mundo pré covid-19: temos uma economia industrial alimentada por combustíveis fosseis e impulsionada pelo consumo desenfreado. Porque, nós não prestamos atenção antes? Pensando na arquitetura, estamos construindo um lar, um mundo em que queremos viver?
As imagens acima, baseado em uma processo de transformação natural, nos ensinam e fazem refletir da necessidade de uma metamorfose, uma transformação no modo como consumimos e interagimos na sociedade atual, onde possam evoluir para um sistema mais equilibrado e circular, baseado nos ensinamentos e recursos naturais renováveis.
O sistema atual é a economia de consumo (desenfreado e altamente impactante), onde o econômico tem mais relevância que o social e ambiental e a própria ecologia a que todos fazemos parte e somos interligados. Neste modelo está mais que evidente a fragilidade de todos os seres e recursos, contrariando inclusive o nosso entendimento pelo que é a VIDA, a qualidade de vida e o bem estar de todos.
Neste novo contexto da relevância do que é a vida, a ecologia (sistemas) retoma a sua devida importância em relação a sociedade antrópica, e esta por sua vez é vista com maior relevância que a economia por si só.
E se de fato analisarmos os últimos meses, no mundo todo, o mais relevante para a VIDA prevaleceu de alguma forma, ou seja, a pausa deve que ser feita, economias pararam, sendo que a economia mundial chegou num ponto de delicada situação e ou ruptura. Uma nova forma de fazer economia, portanto, se faz necessária.
Cabe no momento moldar a economia e sociedade de forma que elas se alinhem com gentileza e harmonia ao meio ambiente, e não ao contrário, como fizemos até o momento.
Então temos o biomimetismo, onde as soluções da natureza podem contribuir para o processo criativo, tanto na forma de analogia como através de seus padrões geométricos e matemáticos.
“O Biomimetismo ou a Biônica são abordagens tecnologicamente orientadas para aplicar as lições de design da natureza buscando solucionar os problemas do homem. Os estudos da Biomimética são embasados nas soluções naturais de projeto, decodificando geometrias e funcionamentos, na busca do melhor aproveitamento e do menor gasto de energia”, (DETANICO, 2010)
Contudo temos um problema de design? É hora de refletir!
Estamos vivendo uma nova revolução, com o advento da indústria 4.0, ou seja, já estamos na 4ª revolução industrial, os recursos à disposição são sem precedentes, a computação quântica e IA, nanotecnologia, manufatura ativa e biomimética, todos a passos largos. Contudo, estes avanços não nos pouparam de alguns dos grandes problemas que enfrentamos, a pandemia covid-19. As pandemias nos mostram o quanto estamos suscetíveis, a pobreza endêmica de grandes nações, as alterações climáticas que estão cada vez mais evidentes, e deixam de ser uma utopia de cientistas e passa fazer parte do nosso dia a dia e interferem no nosso ir e vir, na água da chuva, pelas queimadas em ecossistemas que não haviam passado por estiagem de magnitude a muito tempo, também a biodiversidade do planeta se exaurindo com todos os processos humanos e a questão do resíduos e o desemprego, entre outros tantos.
O que queremos fazer com nossos novos, inovadores e tecnológicos recursos?
“A velocidade é irrelevante se você está indo na direção errada” M. Gandhi
É hora de revisitar o “propósito comum”, que seja centrada na vida. Mas como? A quem perguntar? Para onde olhar? Como viabilizar?
Os canais e caminhos são muitos, acreditem! Por exemplo, as empresas podem e devem ser ser as grandes aliadas neste processo. Já acontece muito pelo mundo com novas startups de impacto socioambiental, por exemplo.
Com a fundação da startup Eecoah, em 2018, se alocando numa incubadora de impacto socioambiental e tecnológico, visávamos e visamos ainda viabilizar esta forma de ver e fazer diferente, a transformação tão necessária, o ver e entender a ecologia e aplicar soluções em harmonia com ela, viabilizando também o retorno econômico ao mercado e sociedade.
No Brasil, pode parecer utopia ainda, certo?
Mas estamos no caminho da mudança, baseado em exemplos de muitos locais pelo mundo, onde inclusive o papel de empresas se baseiam em aspectos múltiplos e associados (além do ganho econômico somente), tais como filantropia, responsabilidade social e corporativa, criação de valor compartilhado e impacto socioambiental positivo.
Refletindo um pouco mais sobre a inteligência da natureza.
Desde a antiguidade o ser humano usa do conhecimento da natureza, nós humanos não somos os criadores originais da forma e nem da resistência. Você já viu a teia de uma aranha, sabia que ela é mais resistente que o aço carbono! Já viu uma ‘casinha de vespa” ou de joão de barro?
A natureza apresenta materiais sem tecnologia digital, mas com alta eficiência, resistência e com resíduo zero, uma vez que circula tudo através dos seus processos biogeoquímicos.
Também não somos a primeira espécie a projetar e construir estruturas complexas. Como exemplo, as abelhas. A tomada de decisão das abelhas visa a inteligência coletiva, a tomada de decisão é democrática, outro exemplo, as formigas da madeira, higienizam o ninho com resina para se protegerem de problemas patogênicos.
Então o biomimetismo, é a grande velha “nova” ideia, pois é a cópia consciente dos grandes gênios da natureza (3,8 bilhões de anos x 30 milhões de espécies) (Prashant Dhawan, 2020)
A natureza é referencia e benchmark, nela temos o mentor, o modelo e a medida correta, e milhões de anos de testes e adaptações.
Até aqui falamos de questões relacionadas a natureza e como o ser humano interage com o meio ambiente. Finalizando e direcionando para a arquitetura, quando falamos de processo construtivo, podemos resumir em três processos:
Fabricação e construção: a natureza cresce, semelhante a fabricação de aditivos, sem desperdício e sem excesso, a química a base de água, não toxico, temperatura e pressão, não poluente;
Gerenciamento, manutenção, operação e saúde funcional: na natureza é possível verificar como são organizadas as assembleias, organismos, que buscam a cura e reparação, gerencia de forma descentralizada e autônoma.
Gerenciamento de resíduos: as entradas são iguais as saída com desenho dos adjacentes.Os materiais são “nutrientes” para outros processos e desta forma nada se perde ou se acumula.
Por fim, e não encerrando o assunto (pois ele é rico e vasto e biodiverso), o desafio para a nova forma de viver, interagir e buscar o equilíbrio e menos pandemias necessariamente passa pelo respeito e entendimento dos processos ecológicos, do biomimetismo aplicado e da priorização da sociedade e natureza acima da economia por si só.
Voltaremos…