Lixo não. Resíduo ou rejeito, ok?

Sim, a nossa principal lei nacional sobre resíduos, a Política Nacional de Resíduos Sólidos – Lei Nº12.305 de 2010 não cita o termo “LIXO”. Com toda a grandiosa intenção que este robusto conjunto de intenções trazia para uma nova era da gestão de resíduos no país, o termo “lixo”, nada técnico e tão popular já ficava para trás.

Então, aos olhos da lei, temos: resíduos sólidos e ou rejeitos.Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

RESÍDUOS SÓLIDOS: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível;

REJEITO:  resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada ( os aterros licenciados, por exemplo).

Traduzindo para uma realidade mais popular, de todos os resíduos sólidos só se considera rejeito aquela parte que não haja solução técnica e econômica viável para que se faça uma prática de economia circular, ou seja, reuso, reaproveitamento ou reciclagem do material antes de dispor em aterros licenciados.

Veja bem, eu disse aterros licenciados, e não aterros controlados e ou lixões…mas isto fica para outra conversa.

Nossas realidades, vontades e desafios …

O brasileiro que pode, em sua maioria, ainda repele debater, entender e se comprometer com o resíduo que gera dentro de sua casa, desconhecendo o tamanho deste problema urbano e não exigindo ações políticas e práticas que possam contribuir para a redução e valoração destes materiais.

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Mas de que brasileiro estou a falar?

Daquela parcela da sociedade que não precisa se preocupar se vai conseguir almoçar e jantar amanhã, ou se vai conseguir pagar o aluguel do mês que vem.

Sim, a relação dos resíduos e seus caminhos no Brasil passam e estão diretamente ligadas com as diferentes realidades sociais e acesso a necessidades básicas. Sabemos que para uma expressiva parcela da sociedade, o fato de não ter alimentação, saúde e segurança garantidos faz com que os demais assuntos não tomem a sua atenção e envolvimento como as leis esperam que tome.

Devemos entender então, primeiro, que a questão dos resíduos no país está diretamente atrelada em entender estas diferentes realidades e como construir soluções que possam agregar melhoria de vida básica para uma parcela que não está e não se sente inserida nas soluções.

Agora vamos dar um pulo numa outra parcela, aquela com emprego estável e moradia e consideremos que atendidas por serviços regulares de coleta de rejeito e coleta seletiva. Se você faz parte deste grupo, te pergunto:

.No teu prédio ou na tua rua, quantos vizinhos de fato você enxerga que estão comprometidos e engajados na separação dos resíduos nas sua casas?

. Quantos sabem o dia da coleta seletiva e sabem certo o que pode e não pode no sistema de coleta seletiva da cidade?

. No teu bairro, quantos focos irregulares estão espalhados por esquinas, terrenos baldios e córregos?

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. As caçambas pelas calçadas, como estão?

. Para onde vai os resíduos da limpeza da sua obra, você se certifica de que estão a ir para locais adequados?

Enfim, não precisamos trazer indicadores aqui para saber que mesmo onde tem estrutura as pessoas, em sua maioria, ainda não estão em sinergia com as demandas e necessidades da boa gestão pública dos resíduos. Sim, sabemos que o poder público poderia desenvolver muito melhor seu papel de educador ambiental, mas o quanto realmente estamos interessados ser os agentes da mudança?

O tamanho do nosso desafio não é pequeno, mas certamente ele precisa que encaremos de frente que somos parte do problema e da solução e precisamos nos envolver, pensar e agir junto aos nossos líderes públicos para soluções mais eficientes. E estas soluções passam por um caminho longo, dede o compromisso com produtos e fabricações mais responsáveis e menos impactantes até investimentos e viabilizações de soluções de circularidade dos materiais.

O consumo como começo e os R’s

Podemos considerar que a nossa relação com extração, produção e consumo de bens é o “começo de tudo” em relação a problemática dos resíduos. E como muitos especialistas já demonstraram, está aí o ponto de revolução, ou seja, produzirmos e consumirmos melhor procurando:

1º) não gerar as perdas (os resíduos)

2º) reaproveitar e recircular o máximo dos materiais

3º) extrair cada vez menos

Uma maneira fácil e pessoal de começar é aplicando a “política dos R’s”, por exemplo. No início dos anos 2000 falava-se muito nos 3R’s, hoje já falamos em 8R’s.

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Repensar, recusar, reduzir reusar, repassar, reciclar e respeitar é de fato, a sequência mais ecoeficiente e necessária para um novo caminho para vencermos o desafio de deixar de enviar 76% de todos os resíduos que geramos para aterros e mais de 3000 lixões no Brasil, ou seja, reduzir a disposição e priorizar a economia circular.

Este assunto é longo e com certa complexidade em algumas das suas diferentes interfaces, mas por hoje finalizo com uma listinha de dicas de como o Akatu, organização que atua com o consumo consciente, enxerga e propõem a aplicação prática dos 8R’s.

Fonte: Akatu

Leia, reflita e avalie como e quanto consegue aplicar no seu dia a dia dentro de casa, na escola, empresa, rua ou qualquer lugar…certamente o mínimo que conseguir já será uma importante contribuição para o seu bairro e cidade.

– Refletir: Lembre-se de que qualquer ato de consumo causa impactos no planeta. Procure potencializar os impactos positivos e minimizar os negativos;

– Reduzir: Exagere no carinho e no amor, mas evite desperdícios de produtos, serviços, água e energia;

– Reutilizar: Use até o fim, não compre novo por impulso. Invente, inove, use de outra maneira. Talvez vire brinquedo, talvez um enfeite, talvez um adereço…

– Reciclar: Em casa, separe os resíduos orgânicos dos que podem ser reciclados. Entregue os recicláveis em postos de coleta ou para o catador.

– Respeitar: A si mesmo, o seu trabalho, as pessoas e o meio ambiente. As palavras mágicas sempre funcionam: “por favor” e “obrigado”.

– Reparar: Quebrou? Conserte. Brigou? Peça desculpas e também desculpe.

– Responsabilizar-se: Por você, pelos impactos bons e ruins de seus atos, pelas pessoas, por sua cidade.

– Repassar: As informações que você tiver e que ajudam na prática do consumo consciente. Retuite, reenvie e-mails.

Abordaremos mais detalhadamente sobre os 8R’s. Até a próxima!

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